“Aceitar a perda tem uma função vital na nossa vida que continua. Sem a certeza do fim, sem a certeza de que algo acabou, é difícil partir para outro projeto, para outra relação, para outro emprego. Ficamos presos em um limbo do ‘deveria’, do ‘poderia’. Ficamos encalhados no ‘E se?’. É como se parássemos nossa vida entre a expiração e a inspiração: o ar já saiu dos nossos pulmões, mas não deixamos entrar ar novo por nos prendermos ao último suspiro.” — Ana Claudia Quintana Arantes, A morte é um dia que vale a pena viver
O livro “A morte é um dia que vale a pena viver” nos conduz a refletir sobre o destino inevitável de todos: a morte. Mas não trata apenas de saber enfrentá-la — em nós ou nos outros, mas também é sobre como podemos viver a vida com menos arrependimentos ao final dela.
E talvez isso passe por encerrar ciclos com mais consciência e coragem. No mundo corporativo, essa é uma conversa pouco comum. A maioria de nós aprendeu a seguir em frente mesmo quando o entusiasmo já não existe mais. Mantemos cargos, rotinas e títulos muitas vezes por medo de nos despedirmos.
No ambiente corporativo, essa recusa tem um nome silencioso: a resistência à transição. Vivi a experiência de abandonar uma trajetória como executivo para ingressar no incerto mundo da consultoria e empreendedorismo. A decisão não foi tomada por falta de oportunidades, mas pela consciência de que aquele ciclo havia se encerrado.
Claro que por algum tempo permaneci naquele limbo descrito por Ana Claudia: o lugar do “E se eu tivesse ficado mais um ano?”, do “Será que deixei oportunidades melhores?”, do “Não seria mais seguro seguir onde já estava?”
Recomeçar não é fracassar — é viver outra vida
A transição de executivo para consultor pode parecer, para alguns, uma espécie de queda. Mas para quem mergulha de verdade nesse novo papel percebe o contrário: trata-se de um recomeço ou de um renascimento. Um novo ritmo, novos clientes, novos desafios — e, principalmente, uma nova identidade profissional mais alinhada com o legado que se deseja deixar.
Esse processo exige mais do que habilidades técnicas, exige coragem emocional para aceitar que o “último suspiro” já foi dado. Só assim é possível se abrir à próxima inspiração, que, agora, vem com propósito, liberdade e, muitas vezes, mais impacto.
O convite
Se você está vivendo essa fase de questionamento, talvez valha a pena parar e perguntar: “Que fim eu ainda não aceitei?”
Porque, como ensina Ana Claudia, a vida só continua de verdade quando respiramos de novo.
E respirar de novo pode significar começar — ou recomeçar — uma nova vida profissional.